Consórcio promove primeira aula do curso “Gênero e Masculinidades”

Educação - Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015


Consórcio promove primeira aula do curso “Gênero e Masculinidades”

Atividades envolvendo grupos de homens se popularizaram nas décadas de 1980 e 1990, nos Estados Unidos e Canadá. Primeiramente, eram discutidos problemas de família, dificuldades financeiras e vícios como o álcool. Apenas no fim do século XX a influência dos aspectos psicológicos sobre o comportamento do homem passou a ser discutida com maior afinco. No Brasil, o trabalho com homens só passou a ser difundido na virada do milênio. Até então, desmistificar o feminismo era o principal objeto de estudo de psicólogos e sociólogos. Para Flávio Urra, Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e mediador do curso ‘’Gênero e Masculinidades’’, as mulheres evoluíram na discussão e sensibilização da questão de gênero enquanto os homens, em sua maioria, ficaram presos aos paradigmas da cultura patriarcal.

"O poder não é distribuído de forma igual, mesmo entre os homens. Há, até hoje, uma hierarquia desigual entre eles. Precisamos refletir para aprender a lidar com esse público", sugeriu Flávio Urra. Na primeira aula do curso, ocorrida na quarta-feira (25), na sede do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, o debate se concentrou no domínio do pensamento conservador sobre o comportamento masculino, e o seu impacto dentro da política, do trabalho e da religião. A formação é fruto de iniciativa do Grupo de Trabalho Gênero e é destinada aos servidores públicos do sexo masculino com atuação nos sete municípios do ABC.

Para a coordenadora do GT, Maria Cristina Pechtoll, a proposta das dinâmicas com o público masculino é a de sensibilizar os servidores sobre a origem do comportamento agressivo de gênero. ‘’A violência doméstica está ligada a relação de poder dos homens. Se conseguirmos fazer a reflexão sobre a origem do machismo, poderemos educá-los sem ferir sua masculinidade’’, defendeu.

O professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Adriano Beiras, foi convidado para a aula inaugural do curso. Segundo ele, há muito preconceito e homofobia na cultura brasileira. ‘’Aprendemos desde cedo um ideal hegemônico, nossos pais muitas vezes modelam o nosso consciente para que tenhamos orgulho de sermos homens. Um exemplo é o pai que diz ao filho para que se defenda, mesmo que com os punhos, do colega da escola que o importuna. Este comportamento é prejudicial para a socialização do jovem’’, explica. ‘’Como esperar que esta criança, ao crescer, seja tolerante às diferenças se não for capaz de evitar uma simples briga com outra criança?’’, sustentou.

Beiras acrescentou, ainda, que muitos dos chavões masculinos estão diretamente ligados à formação do estereótipo masculino de ‘durão’. ‘’Frases como ‘homem não chora’ e fazer algo ‘como uma mulherzinha’, exercem impactos psicológicos na socialização masculina, corroborando para a formação de uma mentalidade mais imatura e agressiva’’, apontou.

O diretor de Programas e Projetos do Consórcio, Hamilton Lacerda, presente à abertura do curso, se mostrou otimista com a iniciativa. ‘’O Consórcio está aqui para apoiar na formação dos funcionários de nossa região. Sabemos que por meio deste tipo de ação iremos aprimorar a criação de políticas públicas construtivas’’, disse. O curso “Gênero e Masculinidades” prosseguirá até 1º de julho, com encontros semanais, sempre às quartas-feiras.

Consórcio Intermunicipal Grande ABC


Santo André