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Consórcio divulga estudo inédito sobre Jovens e Mercado de Trabalho no ABC
O primeiro estudo feito pela Fundação Seade e Dieese sobre a juventude no mercado de trabalho foi realizado em parceria com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC e apresentado hoje (17), na sede da entidade. Dentro da população jovem, na faixa etária entre 16 e 29 anos, o trabalho destacou um grupo nuclear com idades entre 16 e 18 anos. Nesse grupo está a maior parcela dos que apenas estudam (37,8%); também a maior porcentagem dos que estudam e trabalham (22%); e a parcela mais significativa dos que estudam e estão desempregados (11,3%).
Ao mesmo tempo, é entre os 16 e 18 anos que está o menor número de jovens que só trabalham (14,8%), embora nesse caso haja indicativo de inserção precoce no mercado de trabalho. “É um equívoco – e pagamos preço alto por isso – comprometer o futuro de muitas pessoas acreditando que só trabalhando o jovem sairá da situação de vulnerabilidade”, analisou o técnico da Fundação Seade, Alexandre Loloian. Segundo ele, na faixa etária destacada, 61,6% têm ensino fundamental completo e médio incompleto, mas de maneira preocupante, 28,9% não freqüentam a escola.
O estudo especial intitulado “Os Jovens e o Mercado de Trabalho na Região do ABC” levou em conta o biênio 2011/2012. Entre as conclusões está também a de que aumenta a parcela de jovens que estudam e trabalham nos grupos de famílias com maior rendimento per capita, o que demonstra a opção pela busca de experiência profissional e também uma pressão de mercado nessa linha. No entanto, no grupo de jovens de famílias com menor rendimento a motivação é a necessidade financeira, mas “é também nesse grupo que está o maior desemprego”, observou Loloian.
O boletim aponta para a importância das políticas de transferência de renda com possibilidade de prolongamento dos estudos dos jovens. “Alcançar o nível de escolaridade adequado é especialmente importante para ampliar oportunidades de melhor inserção no mercado de trabalho e maiores rendimentos. Proporcionar aumento do nível de instrução com ensino gratuito e de qualidade, oferecendo maior proteção econômica e social a partir de políticas públicas eficientes para a juventude vinculadas à educação, fará toda a diferença para que a inserção no mercado de trabalho seja mais bem-sucedida. Considerando-se a Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude e a mudança na estrutura da pirâmide etária, políticas públicas que visem manter os mais jovens por mais tempo na escola podem proporcionar, no futuro, melhores oportunidades de integração ao mercado de trabalho e patamares mais elevados de qualificação dos trabalhadores brasileiros e do Grande ABC”, conclui o trabalho.
Resultados
Segundo o estudo, no biênio 2011/2012, as pessoas na faixa de 16 a 18 anos eram as que apresentavam, em relação aos demais grupos analisados, a menor parcela como ocupados (36,8%) e a maior no desemprego (17,2%) . Tais informações refletem, no primeiro caso, o fato de que grande parte deles se dedica exclusivamente aos estudos e, no segundo, o problema central dos adolescentes que entram no mercado de trabalho: sua grande dificuldade em encontrar e/ou permanecer em um trabalho.
As informações sobre características da População em Idade Ativa (PIA) refletem as encontradas na população total: as mulheres jovens representam pouco mais da metade da PIA (aquelas acima de 30 anos têm proporção um pouco maior); os não negros são maioria em todos os grupos etários; e a participação de jovens como chefes de domicílio ou cônjuges ganha importância à medida que avança a faixa etária, invertendo-se no caso de filhos, posição em que se encontravam 85,1% das pessoas com 16 a 18 anos de idade e 43,3% daquelas com 25 a 29 anos.
Em relação ao nível de escolaridade destes jovens, observa-se maior concentração daqueles com 16 a 18 anos com o ensino fundamental completo ou médio incompleto e daqueles, nas demais faixas etárias, com ensino médio completo ou superior incompleto . Há, no entanto, certo descompasso entre idade e nível de escolaridade, observado pela importante proporção de jovens de 16 a 18 anos com apenas o ensino fundamental incompleto e pelo fato de que 28,9% deles já não frequentarem mais a escola – porcentual alto, mesmo considerando-se que uma parte já tenha concluído o ensino médio.
Grupos socioeconômicos
A frequência à escola, muitas vezes, ocorre simultaneamente ao ingresso no mercado de trabalho. Para alguns jovens, como os que fazem parte de famílias com maiores rendimentos, isso acontece principalmente por escolha, como meio de aprendizado, visando qualificação profissional e independência econômica. O próprio mercado tem exigido maior escolaridade e experiência profissional, bem como atualização das qualificações. Para outros jovens, no entanto, esta situação se dá por necessidade, quando a condição socioeconômica da família exige tal conciliação, sendo que encontrar trabalho parece ser mais difícil para estes jovens do que para os demais.
Consideradas algumas combinações entre estudo, trabalho, desemprego e afazeres domésticos, a maior proporção de jovens que se dedicam exclusivamente aos estudos, como era de se esperar, é daqueles com 16 a 18 anos (37,8%), embora também sejam deles os maiores porcentuais dos que estudam e trabalham simultaneamente (22,0%) e dos que estudam e estão desempregados (11,3%).
Neste grupo, 14,8% já não estudam e apenas trabalham. Esta é a menor proporção em relação às demais faixas etárias, mas, ainda assim, bastante relevante, por indicar uma inserção precoce e vulnerável que tenderá a se manter ao longo do tempo se não houver retorno aos estudos. Neste aspecto, é importante mencionar a atuação de políticas de proteção às famílias com crianças e adolescentes com vistas a mantê-los na escola, condicionando o recebimento dos benefícios (transferência de renda, realização de cursos, etc.) à frequência escolar.
Foram analisadas as informações das condições de atividade dos jovens (trabalho, estudo, desemprego e afazeres domésticos), segundo a situação econômica de suas famílias, obtida, por aproximação, pelo rendimento médio familiarper capita classificado em quatro grupos, sendo o grupo 1 o de menores rendimentos, com média equivalente a R$ 237 por pessoa da família, e o grupo 4 o de maiores rendimentos, com média de R$ 2.544 por pessoa.
Os resultados dessas combinações indicam a relevância do trabalho: a proporção de jovens que estudam e trabalham cresce conforme aumenta o rendimento dos grupos, semelhante ao que ocorre com aqueles que só trabalham. Em contrapartida, a situação isolada de desemprego ganha importância no grupo de menor rendimento familiar per capita. Para os jovens do grupo de menor rendimento familiar, duas questões se opõem: de um lado, a necessidade de aumento do rendimento familiar, dada a elevada proporção daqueles que estão à procura por trabalho; e, de outro, a maior dificuldade, em relação aos outros grupos, em conciliar trabalho e estudos.
Esta dificuldade pode estar associada não só à falta de experiência (situação válida também para os jovens da mesma faixa etária nos grupos de rendimentos superiores), mas também a outros fatores, tais como: localização da residência e da escola, possivelmente mais distantes dos locais onde há vagas de trabalho, o que dificultaria compatibilizar os horários; qualidade da ocupação oferecida; jornadas de trabalho muito extensas, impossibilitando executar as duas atividades; remuneração insuficiente; desestímulo diante do número insuficiente de postos de trabalho oferecidos em relação à procura; desestímulo diante das exigências cada vez maiores para contratação; e menor proteção familiar e social, que pode, especialmente para este jovem, refletir na falta de uma orientação adequada de como e onde procurar trabalho.
A esse respeito podem-se mencionar, ainda, diferenças entre os grupos socioeconômicos no acesso à informação, seja pela agilidade ou pela qualidade da informação, e no tipo da rede social da qual o jovem e sua família fazem parte, já que, como se sabe, um dos meios mais eficientes para se encontrar um trabalho é por indicação de pessoas conhecidas.
Também neste grupo de jovens mais pobres a proporção daqueles que se dedicam exclusivamente aos afazeres domésticos (não estudam, nem estão no mercado de trabalho) é mais expressiva do que nos outros grupos de rendimentos familiares. É provável que grande parte dos jovens nesta condição seja composta por mulheres, para as quais não só falta perspectiva para enfrentar este mercado (possivelmente em razão de uma baixa qualificação), mas também pesa de forma mais contundente a atribuição, culturalmente determinada, dos cuidados da casa e da família.
O nível de escolaridade do chefe da família influencia na presença destes jovens no mercado de trabalho, servindo como um importante regulador: quanto maior o nível de instrução do chefe da família, mais condições terá o jovem de ficar fora do mercado de trabalho na fase em que precisa se dedicar mais aos estudos, conseguindo, assim, melhor inserção na fase seguinte.
A pesquisa observou que quando o chefe da família possui ensino superior completo, os jovens de 16 a 21 anos têm taxas de participação bem inferiores às dos jovens nestas mesmas faixas etárias cujo chefe de família possui nível de instrução menor; distintamente, os jovens de 22 a 29 anos apresentam taxas maiores quando o chefe de família possui maior nível de instrução do que aqueles com chefe menos escolarizado. A condição socioeconômica da família destes jovens, portanto, é determinante no tipo de inserção que terão no mercado de trabalho e no momento da vida em que esta acontecerá.
Jovens desempregados
Como mostra o, a taxa de desemprego dos jovens de 16 a 18 anos (31,8%) é três vezes maior do que a do total de desempregados (10,1%), reduzindo-se para 19,5% entre os de 19 a 21 anos, para 14,7%, entre os de 22 a 24 anos, e para 11,9%, entre os de 25 a 29 anos. O desemprego se agrava entre mulheres, negros, cônjuges e, de modo geral, entre aqueles que têm os menores níveis de instrução. O desemprego também aumenta, no caso dos jovens, entre os que estão freqüentando a escola, o que pode estar associado, como já mencionado, à dificuldade de conciliação de horários/jornada e deslocamento entre trabalho, escola e casa – fatores que geralmente têm grande influência sobre a decisão de continuar ou não os estudos.
Tais dificuldades também ajudam a explicar mudanças de trabalho nesta fase inicial de inserção no mundo do trabalho, sugeridas pela expressiva proporção de jovens desempregados com alguma experiência anterior de trabalho. Este é um aspecto bastante comum e, por vezes, esperado no percurso laboral dos jovens, que tendem a testar atividades ocupacionais e aptidões. Além disso, as remunerações para os que se iniciam em uma ocupação costumam ser mais baixas, fato que, de certa forma, facilita a decisão do jovem em deixar um trabalho. Além disso, a legislação trabalhista prevê situações provisórias, como o trabalho por prazo determinado (Lei 9.601 de janeiro de 1998), estágio e outras formas de trabalho temporário, que costumam ser uma opção de interesse de alguns jovens.
Jovens ocupados
No setor de Serviços está a maior parte dos jovens ocupados (44,8%), independentemente da idade, refletindo a estrutura setorial do total de ocupados da Região. A Indústria de Transformação aparece como o segundo maior empregador de jovens (30,5%), com proporções acima da registrada para o total de ocupados (27,1%). O Comércio, embora tenha parcela menor, ainda é um importante empregador, principalmente para os grupos de menor faixa etária.
Por tipo de inserção ocupacional, encontra-se maior fragilidade principalmente entre os mais jovens: 35,0% dos que têm 16 a 18 anos estão no setor privado sem carteira de trabalho assinada. Esta situação tende a se atenuar bastante para aqueles com maior idade. A maioria dos jovens ocupados é composta por homens, de raça/cor não negra (com ligeira diferenciação para os de 16 a 18 anos, em que as proporções de homens e de negros são um pouco maiores do que as das demais faixas) e de filhos (para os de 25 a 29 anos o porcentual de filhos, em relação às outras faixas, diminui e o de chefes aumenta).
Como esperado, as proporções de jovens ocupados com maior nível de escolaridade são maiores do que as encontradas na População em Idade Ativa – PIA (que incluem, além de ocupados, desempregados e inativos de dez anos e mais), assim como a parcela daqueles com 16 a 18 anos que frequentam escola é bem menor entre os ocupados, em comparação com a PIA (59,8% e 71,1%, respectivamente), diferença que praticamente desaparece entre aqueles acima de 19 anos. A jornada média de trabalho dos ocupados de 16 a 18 anos era de 37 horas semanais, aumentando para 40 entre aqueles com 19 a 21 anos, 41 horas para os de 22 a 24 anos e 42 horas para os de 25 a 29 anos.
Segundo setores de atividade econômica, os jovens praticam jornadas mais extensas no Comércio (45 horas), seguido pela Construção (42 horas), indústria de Transformação (41 horas) e Serviços (39 horas). A necessidade de arranjos para a conciliação entre estudo e trabalho, para os mais jovens, pode ser percebida quando se associam as informações de jornada de trabalho àquelas de frequência escolar: as jornadas médias são menores para os que frequentam a escola, o que ocorre de forma mais acentuada para os mais jovens. Para aqueles com 16 a 18 anos, a jornada média de trabalho dos que não estudam (40 horas) superava em cinco horas a daqueles que estudam.
Rendimentos
O rendimento médio real dos ocupados aumenta conforme a idade. Esta relação também acontece entre os grupos de jovens, cujos rendimentos médios partem de R$ 693 (16 a 18 anos) e chegam a R$ 1.632 (25 a 29 anos). Isto se reflete no rendimento médio real familiar per capita, que também se eleva à medida que aumenta a faixa etária dos jovens.