Uma das conclusões do I Fórum Memória e Patrimônio Cultural do Grande ABC foi de que a sociedade precisa se engajar na preservação de sua própria memória para não padecer de falta de identidade no futuro. O evento, que aconteceu nesta quarta-feira (7) na sede do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, foi organizado pelo Grupo Temático História e Memória da entidade. O encontro reuniu memorialistas, pesquisadores, professores, estudantes e gestões municipais para debate sobre o papel da sociedade na preservação da memória e do patrimônio.
Um dos palestrantes foi o sociólogo, escritor e membro da Academia Paulista de Letras, José de Souza Martins, que possui obras publicadas nas áreas de subúrbio, questão agrária, imigração e comportamento coletivo, cuja obra mais recente ‘’Linchamentos: a justiça popular no Brasil’’, teve elementos abordados durante explanação. ‘’Muitas das pessoas que decidem fazer justiça com as próprias mãos recorrem a um procedimento padrão. Veja, não existe um manual de como linchar ou revistas especializadas no assunto, mas o sujeito sabe exatamente como proceder sem jamais ter participado de uma aglomeração revoltada. Isso está relacionado à memória’’, observou o escritor.
Para ele, a sociedade deve se esforçar para preservar o patrimônio cultural e incentivar a construção da memória. ‘’O ABC precisa encontrar sua própria memória. A memória está intimamente ligada ao sentimento, e é isso que dá identidade a um determinado grupo, cada sociedade tem a sua’’, disse.
José de Souza Martins apontou que a primeira forma de construção de identidade de um grupo está na língua falada por seus membros. ‘’Nós somos um povo bilíngue. Ouvimos e escrevemos uma coisa, mas falamos outra. Esta pode ser a primeira referência da independência dos portugueses: o dialeto’’, constatou.
Segundo Marly Rodrigues, doutora em História pela Unicamp e diretora da instituição Memórias, Assessoria e Projetos que desde 1999 desenvolve projetos de identificação e valorização de bens culturais, o ABC possui riqueza histórica proporcionada por eventos sistemáticos que ajudaram a alimentar a memória e a construir a identidade da região. ‘’Um dos grandes traços do ABC é a indústria, e ela veio para cá expulsa da capital por questões de higiene. Esse foi um dos fatores para a formação de civilizações aqui, que na época era apenas mais um subúrbio. Com isso tivemos a imigração em massa e, assim, a reunião de diferentes culturas’’, sintetizou.
Marly relatou casos críticos para a preservação da memória. ‘’Em São Paulo não existem mais bairros. Ruas, monumentos e tudo que nos rodeia não são mais compreendidos como patrimônio cultural. As pessoas já não conseguem se identificar com os locais onde nasceram porque há a insistência em derrubar as referências afetivas’’, criticou. A diretora foi enfática. ‘’Só temos uma herança se tivermos uma história para lembrar’’, afirmou.
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