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Participação feminina no mercado de trabalho do ABC recua em 2015, após três anos de alta
A presença de mulheres no mercado de trabalho na região do ABC diminuiu, ao passar de 54,4%, em 2014, para 53,2%, no ano passado, após três anos consecutivos de crescimento. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (3) pela Fundação Seade e pelo Dieese, durante a apresentação do boletim especial Mulher & Trabalho no ABC, elaborado em parceria com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC.
“A participação feminina teve uma pequena diminuição, interrompendo três anos de aumento. A crise financeira ajudou a prejudicar o desempenho”, afirmou Márcia Guerra, técnica da Fundação Seade. A divulgação da pesquisa marca as comemorações do Dia Internacional da Mulher, na próxima terça-feira (8), e foi acompanhada pelo Grupo de Trabalho Gênero, do Consórcio, e pelo Programa Casa Abrigo Regional, mantido pela entidade.
Apesar da queda, a participação feminina no ABC – proporção de mulheres com dez anos de idade ou mais inseridas no mercado de trabalho, na situação de ocupadas ou desempregadas – é superior ao registrado em países como Espanha (52,4%), França (50,7%) e Itália (39,3%). A taxa é próxima à de Portugal (53,6%), mas inferior a de países como Suécia (60,9%) e Holanda (57,5%).
O rendimento médio por hora para as mulheres também recuou, mas em percentual inferior ao dos homens. Em 2015, correspondeu a R$ 11,00 para as mulheres, com queda de 3,5% na comparação com o ano anterior. Para os homens, a queda foi de 7,7%, para R$ 13,97. Com isso, o valor recebido pelas mulheres, que correspondia a 75,3% do embolsado pelos homens, passou para 78,7%. “O rendimento dos homens continua maior que o das mulheres, mas historicamente chegou a ser ainda superior. O ideal não é que o indicador diminua para os homens, mas que haja condições iguais para ambos no mercado de trabalho”, afirmou a técnica do Seade.
A taxa de desemprego entre as mulheres aumentou no ano passado, passando de 11,5%, registrada em 2014, para 13,3%, com o maior índice desde 2010 (14,4%). Ainda assim, o índice permanece nos menores patamares registrados na série histórica da pesquisa, iniciada em 1998. A alta no desemprego para as mulheres foi motivada pela eliminação de 17 mil postos de trabalho. O número foi atenuado pelo decréscimo da População Economicamente Ativa (PEA) feminina da região, com 8 mil mulheres deixando de fazer parte da força de trabalho, o que resultou no aumento do contingente de desempregadas em 11 mil pessoas.
O nível de ocupação para o sexo feminino diminuiu 3%. Com isso, a parcela de mulheres no total de ocupados da região do ABC teve leve queda, de 46% para 45,8%. A retração do nível de ocupação entre as mulheres refletiu os decréscimos na Indústria (-16,3%), principalmente na metal-mecânica (-13,9%) e nos Serviços (-2,0%), parcialmente compensados pelo aumento no Comércio; Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas (8,4%).
Nos Serviços, responsáveis por 69,1% da mão de obra feminina na região, houve queda na ocupação do segmento de informação e comunicação; atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados; atividades profissionais científicas e técnicas (-12,9%), serviços domésticos (-6,2%), administração pública, defesa e seguridade social; educação, saúde humana e serviços sociais (-3,5%) e atividades administrativas e serviços complementares (-2,5%). Por outro lado, o ramo de alojamento e alimentação; outras atividades de serviços; artes, cultura, esporte e recreação registrou alta de 13,0%.
Por posição na ocupação, as mais protegidas pela legislação trabalhista tiveram comportamentos diferenciados. O assalariamento feminino com carteira de trabalho assinada no setor privado recuou 6,2%, enquanto houve aumento de 4,5% no setor público. O trabalho autônomo avançou 7,7%, mas ocorreu queda no assalariamento privado sem carteira (-7,7%) e o emprego doméstico (-6,2%) - tanto entre as mensalistas (-2,8%) como para as diaristas (-13,3%).
Avanços e desafios
Após a apresentação, representantes das áreas voltadas às questões de Gênero com atuação no Consórcio fizeram uma avaliação dos avanços e desafios que envolvem as lutas das mulheres no ABC e no Brasil de um modo geral. A coordenadora do GT Gênero, Maria Socorro Pereira Miranda, lembrou que muitas mulheres ainda precisam deixar de trabalhar para cuidar da família, o que se agrava em momentos de crise econômica. Além disso, mostrou preocupação com a falta de equiparação dos salários entre os sexos. “O desequilíbrio salarial entre os gêneros ainda persiste, tanto no setor público como no privado”, afirmou. A apresentação também foi acompanhada pela representante de Santo André no GT Gênero e ex-coordenadora do grupo, Maria Cristina Pechtoll.
A presidente do Conselho Gestor da Casa Abrigo, Maria Aparecida da Silva, ressaltou que a presença feminina no mercado de trabalho contribui para a diminuição dos índices de violência doméstica. “O trabalho traz autonomia. Empoderar as mulheres é um passo importante para erradicar a violência contra elas”, disse.